quarta-feira, 24 de junho de 2009

Mail a uma amiga

O que acontece é que quando nos "apaixonamos" caímos na estupidez de nos esquecermos de nós e de como somos... e tendemos a compensar a falta que nos fazemos a nós próprios com o que queremos/esperamos do outro. Isso nunca resulta, mas, por vezes, esquecemo-nos disso.
Nós temos de nos manter como somos e temos de continuar a sê-lo sempre, senão “descompensamos”, ficamos infelizes porque o outro nunca vai ser exactamente como nós queremos, não vai dizer sempre o que queremos ouvir, não vai fazer sempre o que queremos... e isso vai (estupidamente) fazer-nos infelizes e insatisfeitas...
Se não te "desviares" de ti e tentares apenas pôr o outro ao teu lado (não no teu lugar, nem tu no dele) é só uma questão de veres se ele te acompanha ou não, podes até abrandar o passo para que ele consiga estar lá, ou podes acelerar para tentares acompanhá-lo, mas não deves nunca desviar-te do teu caminho. Se ele não conseguir (ou não quiser) acompanhar-te é porque não é "companheiro" para a tua "viagem".
É isto que eu penso e apesar de cair inúmeras vezes no mesmo erro, só quando me sinto terrivelmente infeliz é que consigo voltar a mim e... com ou sem "companheiro de viagem", acredita que me sinto muito mais feliz quando isso acontece, porque em vez de tentar "tirar" a felicidade apenas de uma pessoa, ganho a capacidade de a retirar de todas as pequeninas coisas que me rodeiam. E isso é a verdadeira felicidade. E apesar do amor supostamente nos fazer felizes, tenho de concordar com o final do livro “Marés de Inverno” quando o Vasco diz que "o amor é a prisão do espírito. para ser livre não podia amar". É isso.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Viver diferente

Por vezes vem a vontade de fazer tábua rasa de todos os meus amores! Esquecer os passados, ignorar os presentes e fazer já hoje passado dos que chegarão no futuro.
Trocar a ordem, o sítio, o esperado das coisas. Mudar de pele, de mar e de lugar. Trocar de eu. Viver diferente. Esperar menos.
Da onda sempre quis o mar. O todo. Cada onda vem, passa e dá lugar a outra. Mas cada uma é única. Forte ou suave, passa, não é nossa. Não fica em nós. Não nos pertence. Dela fica-nos a surpresa, a emoção, a vida que nela sentimos, um rasgo de felicidade, o sabor a sal e o cheiro a maresia. É única... mas não eterna. E assim, por mais pequena que seja, tem sempre o todo nela.
Assim são os amores. Uns, suaves, passam e deixam em nós a lembrança da doçura. Outros sacodem-nos, tomam-nos, levam-nos de nós, exigem. Melhores ou piores, são nossos, lembrados ou esquecidos... mas únicos.
O amor é igual ao mar. E o mar é tudo. E como o mar, anseia e procura a enseada que o acolha, aceite as suas marés, desfrute da sua força, sabendo que as suas ondas irão transformar o seu rosto, com sorrisos ou lágrimas, mas que tudo isso significa vida.
Do amor eu quero apenas o que quero do mar. Que me surpreenda, me envolva, me deixe temer para aprender a confiar, me deixe mergulhar até não mais poder respirar, me deixe brincar e rir... me faça sentir única e especial, uma onda ou uma maré, que passe por mim e me deixe com a pele molhada, com espuma, salgada... de mar e paixão.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Formiga Matemática

Mais um texto infantil... não resisto a publicá-lo aqui. Não tenho intenção de fazer deste espaço um blog de “família”, mas lá em casa vivem três seres devoradores de livros, papel, canetas e lápis de cor, não só para escrever e pintar o papel propriamente dito, mas também para assim aprender a colorir a vida. É habitual ler-se, muito... e escrever vem naturalmente por acréscimo. Por imitação pura ou por força dos genes, os meus dois filhos escrevem imenso, naturalmente, desde que aprenderam as primeiras letras. Cada um no seu estilo próprio, tentativa após tentativa, personalidades diferentes que se unem no amor aos livros... e também (felizmente!) no amor ao mar...

Esta história foi escrita há dias pelo meu filho Diogo, 8 anos, quase 9:

A Formiga Matemática

Há muito, muito tempo atrás, quando nas escolas ainda não havia Matemática, nasceu uma bela formiga. Os seus pais deram-lhe o nome de Gonçalo.
Passados uns anos a formiga chegou ao 1º ciclo. A primeira coisa que a professora lhe ensinou foi a escrever. O Gonçalo escrevia bem mas tinha sempre na cabeça um nome que era Matemática. Esse nome não lhe saía da cabeça.
Até que um dia, quando o Gonçalo ainda tinha a palavra na cabeça, disse:
- Ma-te-má-ti-ca.
A professora perguntou:
- Qual é o significado dessa palavra?
- Não sei professora… acho que são números e sinais que brincam juntos – disse a formiga meio a tremer.
A professora estava muito espantada:
- Diz-me, diz-me, como é que se faz.
A formiga Gonçalo, com algum receio, disse:
- Então, primeiro é o um, depois o dois, o três, o quatro, o cinco, o seis, o sete, o oito, o nove, o dez e por aí fora.
A professora ficou impressionada e foi falar com o Presidente. O Presidente declarou a formiga Rei da Matemática.
Passados uns anos, o Gonçalo, ou seja, o Rei da Matemática, disse aos seus amigos:
- Daqui a um mês partirei num avião a jacto para as minas. Lá vive o meu amigo Jocasaint que sabe fazer poções mágicas.
Uma formiga perguntou:
- Mas esse teu amigo também é uma formiga?
- Não. Este meu amigo é um louva-a-deus, mas não se preocupem que não faz mal a ninguém!
- Que poção é essa que lhe vais pedir? – perguntou outra formiga do grupo.
- Vou pedir-lhe uma poção que me vai fazer ter o poder de meter a Matemática nas vossas cabeças e de pôr a Matemática também nas escolas dos humanos.
Durante esse mês o Rei da Matemática foi construindo o seu avião a jacto. Como era muito bom e rápido a fazer contas, conseguiu construí-lo só num mês.
Passado um mês, quando já tinha o avião todo pronto, despediu-se do formigueiro e vrummm! Lá foi ele para as minas que ficavam a 10 léguas do formigueiro.
Quando chegou às minas carregou no botão de transformação e aterrou. O avião transformou-se logo num carro a jacto e quando ligou o turbo foi a uma velocidade tremenda.
Ao chegar a caso do seu amigo, bateu à porta e apareceu logo o louva-a-deus:
- Entra – disse ele. Já estava a ver que não te via mais.
A formiga disse, muito apressada:
- Preciso que me faças uma poção para eu poder meter a Matemática na cabeça do meu formigueiro.
- Está bem, mas podias-me ir buscar ao armazém uma lata de poção mágica? – pediu o louva-a-deus.
- Sim. OK.
Quando a poção já estava pronta puseram-na no porta-bagagens. A formiga Gonçalo disse adeus e partiu.
Quando chegou ao seu formigueiro bebeu a poção mágica do seu amigo e começou a espalhar a Matemática por todo o lado, pelas formigas e por todas as escolas do mundo.
Assim conseguiu realizar o seu grande desejo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ontem

O nada das minhas palavras de ontem foi apenas a outra metade de mim...
A metade do nada que agora surge depois do dobro que foi.
Foi tempo passado à espera do início que nunca deixaste ser
Apesar do teu sentir, do tremor das tuas mãos, do teu olhar molhado...
Não entendo esse teu sentir sem viver... como não entendo viver sem sentir...
Fizeste de mim mercúrio líquido espalhado por labirintos sem fim
Cimento escuro e húmido, sem mar, sem ar... sem respirar
Quase me perdi de mim... perdida por ti!
Quis apenas dar-me, sem encontrar medo em ti de me receberes
É por mim que o fiz, não por ti
Apenas porque é o meu modo de ser e de estar
Intensamente em tudo o que sou, porque só assim sou eu.
Porque não te perdes por mim, se sem mim te sinto sempre perdido?
Que vôo falhado é esse que não te deixa alcançar mais longe?
Porque te queres sempre conter... e me queres conter a mim?
Acaso alguém consegue conter o mar?
Apenas a lua, mas repara, dela nós só temos o luar.
Queria para sempre ser uma daquelas pequenas coisas que te fazem feliz ...
Dizer no fim, ainda com ternura, “acabou”…
E sair de mansinho… sem ruído
Do mesmo modo como cheguei…

"Caos Calmo", Sandro Veronesi

Sinopse:
Enquanto Pietro Paladini salvava uma desconhecida de morrer afogada na praia, a sua mulher morria perante os olhos incrédulos de Claudia, a filha de ambos. A partir desse dia, tudo muda. Pietro decide não voltar ao trabalho e começa a passar os dias sentado em frente à escola da filha. Mas a dor e o luto pela mulher parecem não o afectar como seria de esperar. A sua vida continua, ainda que agora num novo e inusitado cenário, que, por sua vez, exerce um fascínio inexplicável sobre os novos e os velhos amigos, o irmão, a cunhada e os colegas de trabalho que ali se deslocam para terem com Pietro conversas para as quais nunca haviam tido coragem. Em vez de lhe darem os pêsames, fazem-lhe confidências, expõem sentimentos e inseguranças numa série de histórias paralelas que levam o protagonista a reflectir sobre a sua própria existência.Esta obra foi adaptada ao cinema, num filme realizado por Antonello Grimaldi, protagonizado por Nanni Moretti e distribuído em Portugal pela Midas Filmes.

O título atraiu-me, não vi o filme...
A “simplicidade” da ideia à volta da qual se escreve este livro é genial. Perante uma situação de choque brutal, o narrador deixa apenas fluir pensamentos, sensações, ligações afectivas tal qual surgem a cada um de nós, sem filtro... e o resultado é surpreendente. A linguagem, clara e acessível, é a dos pensamentos voluntários e involuntários que a todo o instante tomam conta de nós e que aqui são transmitidos ao papel... num “caos calmo”, que nem sempre conseguimos entender, mas que faz terrivelmente sentido.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

As ondas do mar

… um texto escrito pela Mariana, 7 anos, minha filha:

Quando fui à praia vi as algas verdes e os peixes coloridos. Quanto se mexiam parecia-me ver estrelas-do-mar. A maré baixou e já não via mais nada nas profundezas do mar. A maré subiu e vi algas que pareciam flores da terra. Era lindo!
Fui mais para o fundo e vi um golfinho a saltar, que quando ia para a água fazia salpicar tudo. Era tão bonito que nunca saia da água, mesmo se não respirasse.
Passei lá um dia sozinha, distrai-me porque era tão bonito, tudo estava calmo. A maré desceu, mas eu estava tão longe que fiquei ainda dentro de água.
Ai foi tão fantástico que um dia vou para lá sonhar com as ondas!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Momento

A inevitabilidade de um momento no futuro. Em que eu sei que te vou encontrar, ainda que não te conheça. Em que por instantes nenhum de nós vai respirar, para logo a seguir deixarmos o coração bater com mais força. Olhares feitos de um só brilho. De um momento. Em que vou ficar suspensa no tempo, tendo de escolher entre lançar-me num abismo ou atirar-me para os teus braços. Para que me prendas e me guardes contigo. Vou querer sentir o teu hálito, o cheiro da tua pele, para o comparar com o cheiro do mar. Vou querer sentir os teus dedos no meu corpo, o teu corpo no meu. Vou querer tocar-te, sentir-te, primeiro suavemente, para depois de acariciar com posse, fazer-te meu, arranhar-te para depois te lamber as feridas. E entre nós um desejo crescente, o suor, líquido, a escorregar e a fazer-te deslizar para dentro de mim. Uma e outra vez. Até o coração rebentar para além do peito e para além de nós. Para sempre.

Amigos

Encontrámo-nos todos, ou melhor, quase todos. Os “amigos da Ericeira”, alguns amigos de há anos, outros, amigos que continuam a ser de todos os dias…
Éramos muitos, cada vez mais, porque um amigo trazia quase sempre outro amigo e esse novo amigo, por vezes, ficava connosco.
De segunda a sexta-feira a nossa vida não era nossa. Era um papel que desempenhávamos, à espera de sexta à noite… quando começávamos a chegar… uns após os outros.
E conversávamos, dançávamos, namorávamos… No outro dia havia a praia e o mar à nossa espera. E os jantares… em casa de uns ou de outros, quantas vezes éramos 15 ou 20, cabia sempre mais um. E as festas, quantas festas por tudo e por nada… e sempre o mar e a praia…
Chegou mais tarde a altura em que começámos a casar, a ter filhos, a viver outras vidas. Vidas que tomaram novos rumos. Nem sempre próximos. Alguns foram embora para sempre. Outros permaneceram unidos.
Agora, alguns anos mais tarde, tentámos encontrar-nos todos. Muitos vieram. Uns ainda casados, acrescentaram mais alguém ao nosso grupo, outros já se separaram, e outros ainda estarão em vias de o fazer…
Alguns de nós não se encontravam há anos, outros continuaram a encontrar-se sempre. Mas neste dia em que quase todos “regressámos a casa”, o tempo parou… como se fosse ainda o mesmo daqueles dias em que a Ericeira era “quase” só nossa.
Foi bom rever-vos amigos de tantos anos, amigos de sempre! Voltem sempre! O mar continua o mesmo!...

domingo, 7 de junho de 2009

Ensinar a ser maior...!

Subitamente, por entre o som dos telefones, dos cut-off time, das Target II, dos basis points, spreads e escalas de juros, surgiu um novo tema que veio suavizar os picos do nosso dia-a-dia. Tal como uma vaga de praia-mar alisa a areia revolta, assim uma vaga maior nos veio mobilizar a todos, pendentes de uma revelação, da formalização de um processo que há anos aguarda a sua concretização. Vai ser agora. Finalmente.
A família de uma colega que antes de mais é uma Amiga vai crescer, não por força do amor aliado ao nosso instinto mais primário de sobrevivência da espécie que através do nosso ADN nos impele a ter filhos, mas por força apenas do amor. “Apenas” por força do amor. Sempre, sempre a força maior…
Esse amor que nos sobrepõe a nós próprios na ânsia de dar, de partilhar, de fazer alguém feliz. De contribuir para acomodar outros seres, no seu início de vida, nas nossas vidas. De ensinar a alguém a beleza do mundo, para além da beleza que existe em cada um de nós, seres vivos, que por um acaso partilhamos este planeta e este tempo.
São dois seres, duas meninas, irmãs, de 4 e 5 anos apenas. Em vésperas de serem adoptadas pelo coração imenso de uma família, que espera esta oportunidade há anos e anos. Sem perder a esperança. Sempre à espera. Com um amor imenso, pronto, sempre a crescer, à espera apenas de ser partilhado…
Vidas que agora vão mudar. As de quem as recebe e as delas, certamente ainda muito mais. Vão ter a surpresa de descobrir que alguém as ama, incondicionalmente, não por serem parecidas com o pai, com a mãe ou com o avô… mas sim porque são dois seres lindos, a quem alguém deu o primeiro impulso de vida, mas que não as pode acompanhar na descoberta dessa vida.
E essa é a tarefa que cabe aos pais: estar presente, ensinar a descobrir, acompanhar na descoberta, ajudar nos momentos piores, celebrar os melhores, enxugar lágrimas, sarar feridas, ensinar a escolher a beleza e a felicidade, a ter coragem e não desistir, a seguir sempre em frente... Ensinar a ser maior!
Do modo como esse amor é dado, assim se formam vidas. Que se espalham por outras vidas. Que tocam quem está ao lado e vê crescer esse amor a cada dia que passa.
Obrigada Tina e Quim por me deixarem participar neste projecto de amor!
Parabéns pela vossa força !!!

sábado, 6 de junho de 2009

“Marés de Inverno”, Luís Miguel Raposo

Não poderia deixar de falar (mais uma vez) deste livro. Se quero falar de livros, este terá sempre de ser o primeiro, porque foi com ele, com a história dele, com a minha história com ele que nasceu o impulso que me trouxe até a esta “tentadora maresia”.
O que eu senti ao lê-lo foi escrito num momento e as palavras que escolhi, apesar de escritas por mim, estão guardadas onde pertencem, no blog do livro e do autor. Já deixaram de ser só minhas.
Aqui apenas quero dizer que foi um livro que me roubou um pedaço da alma e mo devolveu maior. É um livro feito de mar, do modo como eu o sinto e vivo. E que, como o mar, me tocou, me seduziu e me levou com ele…
O que disse a alguns amigos a quem o ofereci:
É um livro escrito com uma linguagem muito própria, com frases construídas de palavras improváveis, que nos arranham as emoções por serem “tão demais”… mas cujo resultado final, surpreendentemente é de uma extrema suavidade e doçura…
É um livro escrito de dentro para fora, em que a história que conta é um pretexto apenas para a explosão das emoções e dos sentimentos, porque este é um livro feito de “sentir” e não apenas de “contar”. Como toda a “literatura” deve ser.

Cativar: Criar laços …

“”Cativar” quer dizer o quê?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer “criar laços”…
- Criar laços?
- Sim, laços – disse a raposa. - Ora vê: por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti…”
in “O Principezinho”, Antoine de Saint-Exupéry


Os livros criam laços. Entre quem os lê, entre quem os partilha... Entre as pessoas e a felicidade. Entre a vida e o sonho, entre a coragem e a obra…
Podem ser imensos, podem invadir-nos, perturbar-nos, levar-nos para além do infinito, sabendo que para além da imensidão ainda nos espera o absoluto.
Os livros ensinam o que já temos na alma, mas que por algum acaso esquecemos.
São palavras ditas, criadas, rasgadas, atiradas, misturadas ao sabor de um momento, mas que quando encontram caminho em nós, têm o poder maior de recriar o nosso mundo.
Partilhar um livro é dividir um tesouro, é sempre encontrar um amigo. É ser feliz.

... Continuação


Deixo aqui um pensamento, que não é meu, mas de alguém que faz parte do meu grupo de Amigos que são o farol com que posso sempre contar nos meus dias de tempestade.
Surgiu da sua memória, por coincidência, no seguimento do meu pensamento anterior:

“Antes era o mar, agora o céu
Que traz calma ao medo e esperança ao desespero.
Não importa a cor, a luz, o brilho, a quantidade de estrelas ou nuvens
com que se enfeite,
Nem tão pouco que se esconda em neblinas negras
A permanência constante dessa existência azul, apazigua, conforta!
Todos os desencontros e distâncias se resolvem um pouco nesse invólucro comum
de extensão tão imensa e infinita para o olhar.
É que o céu não está apenas acima, mas em todo o redor. Envolve! Na falta de um abraço, esse envoltório sempre é um abrigo ao desamparo de tantos dias.”

IC

terça-feira, 2 de junho de 2009

No início era o mar

No início era o mar... uma imensidão azul, brilhante de uma intensa maresia que nos chegava .. e nos penetrava cada poro, nos invadia com o ar que respirávamos, nos sugava a alma... e no-la devolvia maior!
Naqueles dias eu ainda não sabia o que o mar acrescenta em nós.
Sentia apenas a frescura da areia molhada que me arrepiava os pés, sentia a sua firmeza suave sob a pele, e sentia a vontade de continuar em frente, sempre em frente, sem medos nem temores.
Sentia a espuma a chegar... mais uma onda ... o suave balançar, a mão do meu pai que me arrancava a uma onda maior e me ensinava a confiar. No mar, como na vida.
Mas por vezes o mar tomava conta de mim, ultrapassava-me, fazia-me pequena, mais do que eu era. E eu aprendi o desafio e a coragem para o vencer.
Mais tarde, junto ao mar chegaram os amigos... as brincadeiras, as emoções. O alargar de horizontes, o apoiar, o ouvir e o partilhar. Aprendi a amizade.
E de repente... chegou a emoção maior, o arrepio da alma que nos leva para além de nós e para além do mar. Aprendi o amor.
Chegou também a dor, a dor de perder, a dor de não ser. Temi...
Mas, naqueles dias, esquecida de mim, via o sol, o azul do céu, o azul do mar, o azul sem fim...
E aprendi o que me chegou do mar e que sempre havia de perdurar em mim: a felicidade.