sábado, 18 de julho de 2009

A última vez


Um dia sem tu saberes vou despedir-me de ti. Vamos encontrar-nos como sempre, no lugar de sempre, à hora de sempre e falar das nossas pequenas coisas de sempre. Não será a última vez que o faremos, mas será a nossa última vez. Só eu saberei que aquele momento será a última oportunidade de sermos nós e não tu e eu simplesmente.
Nesse dia não vais perceber que desisti. Que não mais estaremos lá como sempre eu e o meu amor por ti, porque esse já terá deixado de ser. Sei que desistir não é derrota, é reconhecer apenas que a vontade de alguém prevaleceu sobre a nossa. E ambos sabemos que nem sempre quem ganha é vencedor, assim como nem sempre o vencido perde. E neste caso, como em tantos outros, só o tempo dirá qual de nós ganhou ou perdeu.
Mais tarde ao lembrares-te de mim irás perceber que o brilho da esperança terá já abandonado o meu olhar, irás notar que o meu carinho terá perdido sabor, que o coração terá fenecido.
E então sentirás saudades minhas. Saudades de sentires em ti o que eu sentia por ti. Saudades de te sentires especial nos momentos em que te olhava. Saudades de saber que podias, que se tu quisesses eu seria tua. E nesse dia perceberás que eu desisti. E que de nós ficará só a saudade. Nesse dia vais sentir-te só. E contra isso não vais poder fazer nada.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Aos meus amores


Todos os meus amores foram felizes. Por mais lágrimas de tristeza porventura havidas no caminho, todos eles em alguma altura me fizeram sorrir e me fizeram feliz. Em algum momento, tive esperança, acreditei, vivi, senti e fui feliz. Não me interessa lembrar por quanto tempo foi, interessa-me apenas saber que foi. Porque amar é sinónimo de ser feliz, não se mede em lágrimas ou em sorrisos, mede-se em vida… ou quando muito em suspiros!
Todos os meus amores foram únicos. Todos foram diferentes, semelhantes apenas na forma de sentir, sempre verdadeira, imensa e avassaladora. E foram todos tão diferentes nos seus matizes da minha humana capacidade de amar, dar e partilhar momentos da vida, que todos eles sempre me surpreenderam na descoberta de novos tons na pessoa que sou.
Nem todos os meus amores foram correspondidos. Quantas vezes estive sozinha num sentimento, a viver da esperança da chegada daquela companhia especial que tardava, pronta para partir na única viagem que não posso fazer sozinha. Quantas vezes esperei em vão… e quantas vezes fui obrigada a desistir de esperar para sobreviver. Mas mesmo então fui feliz. Por sentir, por ser, por estar viva e perceber que o meu coração sabia e podia bater mais forte. Por amor.
O meu amor de hoje poderia ser o último. Poderia ser tudo. Poderia ser o mais feliz. O mais desejado, o mais esperado. Mas é um amor com fim anunciado porque vive só em mim. Com mais uma lágrima e menos um sorriso talvez.
O meu amor de amanhã chegará um dia. Será esse o grande amor, o que me vai fazer esquecer todos os outros, o que nunca me deixará sozinha e estará pronto para me acompanhar em todas as viagens da vida. Ou será apenas mais um amor na minha vida, não sei. Mas um amor nunca é apenas um amor. É semente de vida, saudade e partilha. É alimento da felicidade. É tudo. E que seja o grande amor ou apenas mais um amor, não faz mal. Porque eu acredito no amor. Acredito para continuar a viver e ser feliz.

terça-feira, 14 de julho de 2009

... é a vida!

Mariana, a meio de um jogo de computador “…tenho medo de tocar na minha cauda e perder… mas se não tentar não sei se consigo!... é a vida!!!”

E é mesmo! Quantos sonhos deixei por tentar com medo de não conseguir! Quantos sonhos sonhados que poderiam hoje ser sonhos reais! Por falta de incentivo ou por falta de alento, mas sobretudo por falta de coragem de arriscar…
E quando o peso do que não fiz por não querer arriscar se tornou maior do que o peso do que consegui sem arriscar… aprendi!
Aprendi que mais importante ainda do que realmente conseguir… é a tentativa de lá chegar, é o sabor do desafio de tentar, é o orgulho de saber que lutei porque quis, apenas porque quis.
O resultado dessa luta? Se ganhei ou perdi? É absolutamente secundário. Eu diria mesmo que nunca, mas nunca perdi. Ou ganhei o que tentei conseguir ou ganhei o gosto imenso de saber que eu tentei. Que tive a coragem de tentar. E essa tentativa pode levar a uma opção de vida, à escolha de uma profissão, ao afirmar de uma opinião, ao nascer de uma amizade, à conquista de um amor… as tentativas de uma vida são infinitas, mas são todas especiais porque são nossas. Apenas nossas. À medida exacta dos nossos sonhos, dos mais pequenos até aos infinitos.
E se quisermos, cada uma dessas tentativas dá-nos a oportunidade de viver, de crescer e de ir mais longe. No conhecimento de nós próprios e dos nossos limites, mas também no respeito pelo nosso valor, no fortalecimento do nosso amor-próprio. E logo a seguir torna-se mais fácil amar o mundo, os outros e a vida.
Aliás, é isto que é viver. Só assim me sinto feliz. Viver de outro modo poderia talvez ser mais cómodo, mas não teria sabor de vida. Seria um mero esboço de ser e decididamente não valeria a pena o esforço de acordar todos os dias!

sábado, 11 de julho de 2009

Por vezes cansa...


Irritam-me as pessoas desmazeladas! Que não se preocupam com ninguém, nem mesmo com elas próprias! Que preferem ter trabalho a dobrar amanhã para evitarem um simples gesto no momento em que ele é preciso! É algo que ultrapassa o egoísmo, roça a preguiça compulsiva ... e por vezes é mesmo irresponsabilidade. Ou estupidez pura!
Estas pessoas deveriam estar isoladas, em quarentena, para sofrerem sozinhas as consequências dos seus (não) actos. E não caber a ninguém a responsabilidade de corrigir essas consequências, geralmente desastrosas. Porque se ninguém se opuser, estas bolas de neve resultantes de uma negligência agora, outra logo a seguir, podem provocar avalanches catastróficas, não só para quem as começa mas também para quem tem o azar de se encontrar por perto. E sem culpa nenhuma.
E eu pergunto-me: numa altura em que há comprimidos para quase tudo, para dormir, para não dormir, para acalmar, para excitar, para fortalecer, para emagrecer, porque não se consegue inventar um comprimido milagroso para responsabilizar tantas mentes irresponsáveis que teimam em não pensar, em não querer saber e muito menos em fazer seja o que for?
Seria bom! É que por vezes cansa encontrar pessoas assim...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Há dias assim

Há dias assim. Em que me fazes falta. Em que sinto saudade de tudo, de ti também. Dias em que acordo com vontade de te falar, em que imagino o que fazes, se te irás lembrar de mim por entre os momentos do teu dia. E fico parada. Fecho os olhos para te ver. Imagino tocar no teu rosto, sentar-me ao teu colo, pendurar-me no teu pescoço e fazer-te sorrir. Aflorar os teus lábios, passar os dedos pelos teus cabelos, respirar o teu perfume, inebriar-me de ti. E a minha vontade de ti é tanta que quase te sinto, quase te ouço dizer o meu nome. Quase...
Mas a verdade é que só o mesmo sol nos une nesses instantes, luz e sombra de uma mesma vida. E quando por fim nos encontarmos, os teus olhos vão dizer-me coisas que a tua boca vai negar. E eu vou fazer de conta que acredito. Nos teus olhos ou na tua boca. E logo a seguir vou deixar a vontade correr solta na cumplicidade de um olhar. Em silêncio vou deixar os meus dedos deslizarem e tocarem os teus para os sentir estremecer nos meus. Vou sentir o teu receio abandonar-te e prender-te ainda mais a mim. Vou fazer-te acreditar em ti e trazer-te até mim. Desta vez para ficares.
Mas agora que não estás, escrevo para ti. E peço ao vento que te leve beijos meus...

terça-feira, 7 de julho de 2009

Palavras

Amo-te. Gosto de ti. Quanto menos sentido, mais fácil dizê-lo. Quando não compromete, serve um fim apenas, melhor ou pior, seja ele qual for. Quando não se sentem, são palavras leves, de consumo imediato, "fast-food" de sentimentos, pleno de calorias mas de pouco alimento. E o sentimento, assim diluído, perde sabor.
Mas quando deveras sentido, custa dizê-lo. As palavras pesam receios, procura-se o tom, a altura certa, que por vezes tarda e angustia. Expõe um sentir, um gosto, um carinho, implica um julgamento em que se é aceite ou recusado. Toma a coragem, a decisão de arriscar, a vontade de dar e só então as palavras nascem. E deste modo, depois de sentidas, são ditas, oferecidas a alguém. Podem mudar apenas um momento, ou uma vida inteira. Podem provocar um sorriso ou uma lágrima. Pouco importa. Serão sempre oferta de felicidade.

domingo, 5 de julho de 2009

Uma questão de lógica...











A Mariana tem medo de cães. É um facto que não aceita argumentos. Do alto do meu pensar racional de adulta, pensei que esse medo fosse proporcional ao tamanho dos cães. Que os mais pequeninos lhe parecessem inofensivos...
Hoje cruzámo-nos com um cão mínimo, que passeava na ponta de uma trela maior do que ele. Pensei vitoriosa: deste ela não tem medo! e confiante perguntei-lhe: "Então Mariana, deste cão não tens medo, pois não?"
Resposta pronta, ainda mais confiante, com a segurança dos seus 7 anos: "Claro que não mãe! Tem trela...!"
Afinal, é tudo mesmo uma questão de lógica.

"A vida de Pi", Yann Martel

A VIDA DE PI de Yann Martel
Tradução: António Pescada
Colecção: Literatura Estrangeira
Ano de Edição: 2003
Editora: Difel
Nº Páginas: 344
ISBN: 972-29-0655-0
EAN: 9789722906555
Prémio Man Booker 2002
Prémio Hugh MacLennan de Ficção 2001
Prémio Journey 2001

Sinopse:
"Depois do naufrágio de um navio de carga, um único bote salva-vidas permanece a flutuar à superfície do agreste Oceano Pacífico. A tripulação do barco consiste numa hiena, um orangotango, uma zebra com a perna partida, um tigre de Bengala e Pi Patel, um rapaz indiano de 16 anos de idade. O palco está preparado para um dos mais extraordinários fragmentos de ficção literária dos últimos tempos. Um romance com tão rara e assombrosa habilidade para contar histórias que, como diz uma das personagens, talvez faço o leitor conseguir acreditar em Deus."

Este é um livro que se lê devagar, não se devora, mas saboreia-se e faz-nos pensar. É uma fabulosa fábula sobre a condição humana, escrita numa linguagem simples e levemente filosófica, que nos surpreende não raras vezes com frases extraordinárias. Talvez seja o seu autor quem melhor o define quando diz que "Pi é o espírito humano no seu melhor".





Detalhes


Pormenores. Detalhes sem importância. Não, não é verdade! São os detalhes que realmente contam. São eles, poderosos, que fazem toda a diferença… que acrescentam sabor ou destroem num instante o esboço de uma emoção.
Os detalhes que me chegam dos outros avivam recordações, inspiram amizades, amores, partilha, promessas, trocam comigo cumplicidades, fazem-me ser parte. Ou então não! Destroem sonhos, mostram-me que “afinal não!”… que estou só num sonho, numa ambição de ser, podem até tirar-me a coragem de continuar.
São detalhes. Pormenores. Mas são eles que dão o sentido ao meu todo. Que mostram o norte no caminho que sigo, que me fazem avaliar o sucesso da minha caminhada. Que me embriagam de coragem ou me tentam a desistir.
A alegria de descobrir um pormenor inesperado numa atitude esperada! Que doutro modo quase passaria despercebida. É única... a cereja no topo do bolo!
Do mesmo modo, os meus detalhes chegam aos outros. Reveladores. Do que sou, do que faço, do que quero e sinto. Que se percam ou não já não depende de mim.
Os grandes feitos por vezes são tão grandes que se tornam fáceis. Porque já estão pré-formatados em tantos hábitos. E perdem significado porque perdem espontaneidade. São os pormenores desses grandes feitos que contam, que marcam a diferença. É aquela subtileza de quem dá que faz a oferta ganhar um sentido especial em quem recebe.
Os detalhes alimentam e os detalhes destroem. Os detalhes fazem nascer ou morrer emoções. São a chave para momentos. Momentos que podem ser tudo. Ou simplesmente não serem.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Bem-querer

Por vezes a tristeza surge em mim. Em silêncio, senhora de si, chega, ordena à alegria que se afaste para lhe dar o lugar que reclama. Que forma toma para se apoderar assim do que lhe não pertence? E como ganhou ela caminho até mim? O que chegou aos meus olhos, o que faltou aos meus ouvidos, que pedaço de mim me falta quando a tristeza assim surge?
Por vezes é tudo, outras vezes um nada. Um olhar que não chegou, uma palavra por dizer, um silêncio que dói, um vazio a mais, uma pena que pesa e arrasta, sem motivo nem destino.
E a tristeza brota, cresce, vive e pensa que vai viver em mim.
Mas eu sou terreno de vida, não de penas, o mal em mim não tem abrigo nem caminho. Não que a vontade comande ou tenha tal poder. É apenas a natureza que é assim. Basta afastar um pouco o olhar de mim e pousá-lo à minha volta com cuidado. Para saber que a vida me quer bem. E contra esse bem-querer, o que pode uma simples tristeza?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ericeira

Respira-se o mar no ar da Ericeira. É ar que carrega gotas de mar, salgado, que se acrescenta e materializa em nós, humedece os pulmões e suaviza o ser. É mar a crescer e a irromper por toda a vila, em cada praia, por sobre as rochas, em cada rua sentido. É mar que conquista ao primeiro olhar, nos tira a voz, nos domina. Que nos fala e nos obriga a escutar.
Tem várias caras mas uma só alma este mar.
No verão é irmão, deixa-nos brincar, oferece-nos as ondas, faz-nos crianças, trás memórias de infância, sente-nos eternamente jovens, como se o ontem pudesse ainda voltar amanhã. A cor e a luz inundam-nos de brilho, ferem os olhos, a brisa vive junto ao mar. Por vezes cresce e chega a nortada para nos lembrar que este é mar a sério, sem retoque. Ao longe o Cabo da Roca impõe-se, magnífico, vizinho amigo que nos mostra que aqui pertencemos ao mar mais do que à terra, que num instante esquecemos e deixamos para trás, virados que estamos sempre sobre o mar.
Mas no inverno este mar é dono e senhor do espaço e de cada um de nós. O primeiro olhar que dele me veio quando o meu nele pousou foi medonho, ameaçador, ocupado a defender-se do céu que num jogo de guerra, o envolvia em tempestade e trovões. Fiquei suspensa de cada relâmpago, tremi com cada trovão. Entendi o significado da imensidão, do absoluto, da beleza petrificante que pode haver na sua força. Rendi-me.
Aprendi que logo a seguir, porém, céu e mar fazem a paz. E céu e mar brincam, trocam brilhos, diluem-se num só. Por vezes o horizonte escapa-se, esconde-se, é o céu a querer ser mar, ou o mar a quer imitá-lo. Quando chove fundem-se ainda mais num só corpo, numa só vida, parede de filigranas estonteantes, tão próxima de nós que duvidamos da nossa capacidade de respirar. Outras vezes as nuvens chegam, cobrem o mar, parecem protegê-lo e logo vem o sol, a brincar, a rasgar por entre as nuvens para se precipitar no mar em cordas suaves de muitos brilhos.
Só aqui o céu tem este brilho, só aqui o mar em esta cor, que lhe chega porventura da alegria deste céu ter este mar por companheiro. E no entardecer, quando o mar acalma para se despedir do sol, este em troca transforma-se em mil cores para o acariciar e o prender ao seu regresso.
É neste mar companheiro que lavo os olhos de mágoas quando preciso de alívio para as minhas tristezas. É a ele que eu ouço quando preciso de alento. A ele confio os meus receios, segredos e anseios. Forte ou suave ele tem a minha alma.
Desde o primeiro olhar entendi que esta é terra de céu e mar em que o mar, mais pequeno que o céu porventura, nos transporta até à imensidão do infinito que nos cobre e nos faz pertença deste céu.
Entendi que este mar ama esta terra e é o mar que me fez amá-la também. E é tanto o amor do mar que o faz sair de si, evaporar-se, transportar-se com a cumplicidade deste céu, transformar-se em humidade salgada para assim se poder colar à terra, a acariciar e invadir, nevoeiro de mar, forma de amor.