sábado, 26 de setembro de 2009

Fecho os olhos

És luz involuntária e absoluta que me invade e perfura cada poro até iluminar e desvendar todos os meus becos esconsos, escuros e escondidos em mim.
Fecho todas as portas, as janelas, corro os cortinados mais pesados, tapo cada ranhura, numa tentativa vã de não te deixar entrar. Quero preservar o meu lado escuro onde me posso fechar incólume e cultivar a indiferença de que preciso para sobreviver sem dor.
Mas mesmo sem quereres, tu alcanças-me e preenches todos os meus espaços, escancaras as minhas verdades em troca do teu imenso vazio, num jogo sem lei onde eu sei, sou sempre perdedora.
E é tal a tua luz que me faz transparente, trespassada por mil sóis que me cegam apesar de tão distantes. Mas eu sei que a tua luz ilumina mas não aquece. Tem brilho, mas não resplandece, fere, dói e faz chorar.
E eu fecho os olhos com força, não sei se para te impedir de me chegares, se para não te perder, impedindo-te de sair de vez de dentro de mim.

sábado, 19 de setembro de 2009

Estátua de sal

Estátua de sal
Resto de mar, azul e espuma
Perdida e esquecida na areia
Numa praia qualquer
Longe, ténue, hirta e fria
Gaivotas que voam
Tempo sem fim
Contam-se os dias
Cegos do sol
Surdos do vento
Sonhos apenas
Onda que a desfaz sem medo
De volta ao mar
De volta à vida

sábado, 12 de setembro de 2009

Chegaram as chuvas

Chegaram as chuvas. Fecha-se o tempo sobre o verão e sobre uma infância longínqua, algures perdida no tempo passado, planos feitos, alguns vividos outros sonhados, ainda esperados. Altura de nostalgia do que foi e podia ter sido, do verão e das despedidas, primeiro do mar rumo ao Douro e depois do Douro de volta a Lisboa, para um reencontro ou um recomeço da vida, na escola, com os amigos de sempre, mas ainda assim com a nostalgia da separação de algo amado, mesmo que para o reencontro ou a descoberta de um outro amor.
Passaram-se os anos sobre essa infância, ficaram as lembranças das imagens, da nostalgia dos sentimentos vividos, do cheiro das primeiras chuvas sobre a terra molhada que sempre me levam de volta a esse sentir.
Na vida como no verão, o fim trás nostalgia mas também esperança de recomeço, balanços feitos e planos que se constroem, sentimentos que se rompem ou se descobrem. Longe ou perto, passado ou futuro, mas nunca esquecendo que a vida é aqui e agora.

sábado, 5 de setembro de 2009

Por amor


Apenas por amor
Iluminei o sol, acendi estrelas e pintei o luar
Fiz nascer rios, conquistei montanhas e percorri florestas
Fiz da estrada um rumo, do vento uma rota e do mar um lar
Espelho de mim, de cada alegria ou de cada dor
Procurei o sorriso e o brilho de um olhar que o meu enchesse
Porque amar é sentir com dois corações no peito em vez de um só
Sem conseguir distinguir qual dos dois é o que nos pertence