sábado, 16 de janeiro de 2010

Veludo e Paz

Veludo branco com arminho, suave ao toque da pele nua. Espaço liso, silêncio cristalino, amplitude imensa. Espaço infinito onde vive a paz, longe ainda. E que pressinto no voo de uma gaivota. No som das ondas sobre a praia. Num deserto branco de montanha. Nas pétalas macias de uma flor. Num sorriso de criança. Na descoberta de um sonho. No concretizar de um desejo. A paz que completa a felicidade que procuro, desesperadamente, em gritos que calo, em noites que perco em busca de mim, como se correndo chegasse mais depressa mesmo sem saber onde quero ir. Parto de repente e apenas porque não me reconheço no sítio onde estou. E não podendo ficar, fecho os olhos com força e corro em frente, sempre em frente, como se me esperasse a mim própria, ansiosa, na chegada, esquecendo-me de que não sei onde ela fica. Quanto desespero na busca dessa paz, esquecendo-me de olhar em volta para a calmaria de um mar azul de verão que fica quieto, entretido apenas a reflectir a cor do céu e que assim fica feliz. Em paz com o vento e as marés que o sacodem. Sendo apenas mar, reflexo do céu e isso lhe bastando. Não quero sofreguidão na busca da minha paz porque assim me perco no caminho. Quero apenas descobrir o lugar certo, num labirinto de pressas que me confunde a escolha. Quero apenas saber que tentei. Que fui. Colhendo e saboreando cada pedaço do caminho, passo a passo, segura de mim, mesmo sem saber onde é a chegada. Veludo branco, azul do mar imenso e silêncio cristalino. É assim que pressinto a minha paz, depois de todos os enganos. Se é tão importante ser feliz, porque é que me esqueci tantas vezes de tentar?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Onde estás?

Frio. Silêncio. O mar está tão calmo que parece que toda a tormenta se refugiou em mim. O azul foge, quase cinzento, límpido e brilhante mas tão escuro nos meus olhos. Hoje o mar não me invade nem me chega. Sou areia que se escoa e se perde por entre os dedos da vida, não resisto, não vivo, não quero, não sou.
Esperei em vão. Por ti. Onde estás? Que vida é essa que é tão pequena em ti? Perdes os dias, perdes o tempo e o amor. Perdes-me a mim. E eu paro na vida e espero. Espero por ti. Até um dia, que eu acreditei ser para sempre, mas não foi.
E tu não vens. Tento acordar para mim, tão esquecida do que sou, perdida do que quero ser. Mal me conheço já. À força de querer chegar perto de ti, fui-me afastando de mim e agora encontro-me longe de mim e sem saber de ti. Onde estás?
A mágoa espalha-se, sorrateira, chega e não desiste. Pouco a pouco toma conta do tempo e pinta o sentir com cores diluentes que tudo apagam, menos a dor. Tudo escurece, até o mar sob uma lua cheia tornada de repente lua nova.
Olho para ti, adivinho os teus olhos, a tua boca, as tuas mãos, mas a mágoa não deixa que te veja. Tento ainda arrancá-la de mim para te ver, mas não consigo.
Perdi-me de ti, perdi-me de mim, morreu a esperança. Ficou a mágoa e o silêncio em mim. Onde estás?