sábado, 22 de agosto de 2009

Live and let die

Por vezes a vida sente-se por instantes intermitentes, liga desliga, sem rumo e sem lugar, quando as referências que um tempo tudo foram, de repente deixam de ser. Fica para trás o que em tempos foi âncora, lugar do sonho onde a esperança viveu aninhada à espera de ser, por escolha imposta, quando a vontade já nada mais pode fazer.
Live and let die, há que sobreviver mesmo que tudo o mais morra, liga/desliga, on/off, aos soluços por entre instantes de vida misturados com espaços negros vazios que sugam os sentidos e a consciência, para mais tarde reagir, acordar e continuar a viver. Escolhas, lugares, tempo, uma vida que de tão perto senti minha, de repente deixa de ser. De tal forma que a recusa me invade, e prefiro divagar sem rumo, por outras vidas que ainda estão para descobrir por entre a minha.
Por me encontrar no deserto acreditei na miragem que tu eras. Escolhi acreditar no teu olhar, sem querer saber o que a tua boca me negava. Escolhi acreditar que um dia não haveria mais dúvidas, nem diferenças entre razão e sentimento, que o meu amor te tocaria e te mostraria que afinal o meu sentir não mais era do que um eco do teu. Pura miragem que nem sonho foi.
E da miragem fez-se nuvem que partiu. E olho para ti e nada vejo. Queria ainda agarrar um pouco daquela imagem que de tão cheia preenchia quase a ilusão do meu afecto. Mas nada sinto à minha volta no deserto. O vento apagou os teus passos e eu não quis sequer guardar em mim a recordação do sentido que levaste quando te foste. Foi a tua essência que partiu e se afastou de mim. Ou eu que cansada parti, talvez. Sinto que não mais existes. Mas ainda assim, olho à minha volta como se te procurasse. Porque sinto a tua falta na miragem do meu oásis que sem ti perdeu a sua nascente de vida. E eu penso e não sei. Se o que me faz falta és tu mesmo ou apenas a miragem que em ti via e na qual eras rio que corria solto por entre as mil folhas verdejantes que para ti só criei no meu deserto e onde, sem saberes, aplacavas a minha sede.
Dói-me ainda não te ter, mas mais ainda dói-me não mais te querer. O vazio que deixaste atrás de ti parece-me agora absurdo na sua imensidão sem medida. Querer-te bem fez-me sentir-me bem, até que a mágoa chegou e num instante abafou o coração e calou a razão, se alguma havia.
E assim me vejo agora, abandonada de mim, com labirintos abertos sem camuflagem que eu quero rapidamente fechar, mas que sei ter de percorrer lentamente um a um. Como se de uma limpeza higiénica se tratasse, um corte cirúrgico de sentimentos, pois nada pode ficar para trás esquecido para mais tarde ser inadvertidamente encontrado. Os encontros com o passado doem e impedem o futuro que se quer fazer hoje.
Mas uma vez os labirintos fechados e esquecidos sob as dunas, poderei olhar para o céu sobre o deserto. As estrelas lá são mais brilhantes. Uma me guiará até a um novo oásis por descobrir.
E que esse novo oásis não seja mais uma miragem desta vez!

2 comentários:

  1. Gostei muito do que li por aqui,visita o meu blog onde coloco os mails que crio e envio para meio mundo mais as respectivas respostas:

    http://maildeumlouco.blogspot.com/

    Acho que vais gostar.
    Espero que te divirtas a ler.

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