sábado, 29 de agosto de 2009

Marionetas de vida

Linhas cruzadas, vidas trocadas, sons indistintos que chegam de longe sem sentido. Luz baça e sem esperança num túnel sem fim que converge num ponto que se faz longe a cada passo mais.
No infinito está essa fuga que se quer real mas que teima em escapar-se num ápice, com um avanço imenso sobre a partida que se afigura sempre falsa. O espaço alarga-se, aumenta a olhos vistos, mas só o vazio chega, nada mais, preso num avesso de vida. Dor líquida que gota a gota se mistura e se perde num silêncio sem nexo. Acabam-se os sons, também eles rendidos ao silêncio que sobranceiro se impõe num vazio ainda maior.
O universo dilui-se e mistura-se sem forma aparente, rouba os sonhos, a esperança e a luz na sua ausência. Céu sobre o mar ou mar que cobre o céu e das nuvens faz algas, rochas, abismos, lugar de ondas perdidas que se esgotam e se gastam sem encontrar abrigo. Tudo cai, rola e se parte em mil pedaços e reflexos do que fora em tempos.
Onde está esse fim que leva ao princípio? E o princípio, que nunca se acaba, perde-se em meandros ocos que lhe roubam o sentido e a forma e o impedem de chegar ao milagre que se espera. O caminho estende-se em frente, aos círculos, em fases repetidas e conhecidas e que mesmo assim não se evitam.
Marionetas de vida que sozinhas sempre se perdem em busca do caminho certo. Por falta de ser não vêem que os caminhos são iguais aos de outras vidas e que as vidas se trocam, se ganham e se perdem, mas que nenhuma é na verdade de ninguém.
Mas do meio do nada rasga-se o vento em sopro de vida. Sobre a escuridão do instante perdido brilha um fio de luz que se agarra à vida que se quer livre e feliz. Trovão e relâmpago que destrói mas ilumina por segundos e que do caos faz instante parado no passado. E assim da vontade faz-se vida. Cortam-se os fios um a um. As marionetas ganham vida e procuram outras vidas. Para cortarem outros fios e com mais amor fazer mais vida.

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